JOGOS REDUZIDOS: uma possibilidade a se explorar
Modelo de treinamento oferece a
possibilidade de desenvolver nos jogadores um entendimento maior sobre o que
acontece numa partida de futebol
Fonte: Site Universidade do futebol
No âmbito do futebol, a metodologia
de treinamento torna-se algo determinante para a melhoria do desempenho em
relação à parte técnica, tática e física, na qual sua aplicação sistematizada
possibilita diversos benefícios para alcançar objetivos bem definidos. Por isso
o conteúdo de treinamento tem sido um fator muito exigido no meio esportivo
atual, pois sua importância remete a uma visão ampla e complexa, permitindo uma
elaboração metodológica criativa e estruturada.
Sendo assim, os jogos
reduzidos caminham como algo interessante em relação ao futebol, é um método
bastante utilizado pelos técnicos e preparadores físicos brasileiros e
estrangeiros, pois sua finalidade é proporcionar um jogo mais dinâmico e
elaborado, criar situações inteligentes de ataque e defesa, permitir um contexto
mais estruturado, priorizar o pensar, e não restringir a técnica somente à
execução perfeita de um movimento específico para o jogo, mas ao conjunto dos
modos de fazer que se faz necessário à sua prática; e a tática não se reduz ao
sistema de jogo definido, mas as razões do fazer que orientam as ações exigidas
pela própria situação. A técnica não existe sem a tática e vice-versa. O que
deve ser feito em uma situação de jogo (a técnica) é demandado pelas exigências
da situação (a tática) define Garganta, (1995).
Nesse contexto Garganta
(1995) destaca quatro fases de desenvolvimento das habilidades essenciais do
jogo que devem nortear o processo de aprendizagem dos alunos: 1) anárquica, 2)
descentração, 3) estruturação, e 4) elaboração; No qual as mesmas dependem não
somente do nível técnico dos praticantes, mas de três variáveis indissociáveis:
a) a comunicação entre os jogadores, b) a estruturação no espaço de jogo, e c)
a relação com a bola. Assim a forma mais simples de jogo, a anárquica, faz com
que os praticantes se aglutinem em torno da bola, não utilizem de maneira
adequada os espaços do campo, movimentem-se apenas em torno da bola e
comuniquem-se de forma verbal para solicitá-la. Através dos jogos pode-se fazer
com que os alunos compreendam suas fases e características a fim de executar
ações mais inteligentes.
Ainda Garganta (1995)
define a forma mais elaborada de jogo que é citado como a última fase de seu
processo, prevê praticantes com melhor relação com a bola, os quais, mesmo sem
a posse dela, se movimentam taticamente pelo espaço de jogo, sem tanta
necessidade da linguagem verbal quando se trata de pedir a bola. A comunicação
e a movimentação inteligente não só de jogador para jogador, mas do grupo como
um todo. Além disso, Bayer (1994) sistematizou a ideia de esporte coletivo a
partir de suas invariantes que contribuem bastante aos jogos, sendo seis
princípios operacionais, três de ataque e três de defesa, são eles: situação de
ataque 1) conservação da posse de bola; 2) progressão da bola e da equipe em
direção ao alvo adversário; 3) finalização em direção ao alvo; situação de
defesa 1) recuperação da posse de bola; 2) contenção da bola e da equipe
adversária em direção ao próprio alvo; 3) proteção do alvo.
Para Bayer (1994), os
praticantes sempre realizam um ou mais princípios, e existem vantagens dentro
de sua perspectiva, onde a primeira evita a especialização precoce em uma
modalidade esportiva, buscando o conhecimento da estrutura de todas elas, e a
outra estimula os praticantes a compreender a dinâmica tática do jogo,
procurando ações mais inteligentes para a solução das situações-problemas que
surgem no jogo. Para realizar com êxito os princípios operacionais, Bayer
define as regras de ação, ou seja, as necessárias à consecução de determinados
objetivos. Por exemplo: a fim de fazer a bola progredir ao ataque, e chegar
mais próximo ao alvo adversário, os praticantes devem criar ações de circulação
da bola, para que esta chegue rapidamente ao ataque, além de tentar com essa
circulação, confundir a marcação da defesa adversária. Para fazer a bola
circular rápida e objetivamente, os jogadores também precisam de uma
movimentação inteligente, não somente em direção à localização da bola, mas
prevendo onde ela estará nas jogadas seguintes.
Para tanto há também a
participação dos jogos reduzidos na preparação física, onde os mesmos podem
gerar movimentações mais intensas e com infiltrações no meio da marcação com
vantagem numérica do ataque e marcação forte dos defensores no 2X2, 3X3, 4X4,
3X2 4X3 etc. Com isso, podemos trabalhar o deslocamento coletivo de ataque e
defesa para outras áreas demarcadas, enfocando a transição e apoio em relação
ao homem da posse de bola no 3X1, 4X1, 5X2, priorizando intensidades elevadas e
pausas relativas a uma partida.
Entretanto não podemos
nos restringir ao desenvolvimento desses aspectos supracitados apenas aos jogos
reduzidos, é necessária também para a parte técnica a utilização dos métodos
tradicionais, ou melhor, à aplicação do modelo analítico (treino descontextualizado
do jogo) onde as ações isoladas possibilitam desenvolver a biomecânica adequada
de um gesto técnico, seja na inclinação do tronco para trás ou frente para uma
recepção no peito, no uso dos membros superiores para uma disputa aérea de
bola, nos deslocamentos laterais e costas para alcançar a bola, visando sempre
uma maneira correta dos movimentos e melhora postural específica do praticante
do futebol, porém com muita atenção e cuidado, pois muitas vezes não recebemos
a bola sem a pressão da marcação, não a recebemos “redondinha” e parado para
dominar na coxa, peito ou cabeça. No contexto da preparação física devem-se
existir os trabalhos sem a bola para desenvolvimento da potência, com a
utilização dos métodos intervalados, caracterizados por estações específicas,
tais como: a utilização do treinamento pliométrico, trabalho tracionado, método
complexo, levantamento de peso olímpico e movimentações de frente, trás e
lateral específicas do futebol que priorizem a aceleração e desaceleração. Em
relação à organização tática, pode se destacar a elaboração de um
contra-ataque, uma jogada de bola parada, um trabalho de finalização e entre
outros aspectos que não são contemplados nos jogos reduzidos.
Portanto devemos destacar
os jogos reduzidos como uma possibilidade de melhor atuação no futebol,
principalmente para melhorar a aplicação no desenvolvimento e aprofundamento
dos três fatores que fundamentam o jogo: a técnica, a tática, e a física. Há
também uma grande contribuição dos jogos em relação a criar situações
inteligentes de defesa e ataque, as quais têm como principal característica o
pensar para se jogar. Contudo vale ressaltar que os jogos reduzidos não serão o
“santo milagreiro”, o “super-herói” no futebol, mas podemos incluí-lo para
ações complexas em certas situações de uma partida, principalmente quando se
possibilita ações de compreensão e estruturação de jogo, onde a movimentação e
ocupação dos espaços vazios se dão com e sem a bola, de maneira individual e
coletiva, para assim conseguir atingir um objetivo proposto de ataque (fazer o
gol) e defesa (não levar o gol).
Referências bibliográficas:
BAYER, Claude. O ensino dos desportos colectivos:
Dinalivros, 1994.
GARGANTA, Júlio. Para uma teoria dos jogos desportivos colectivos. In:
OLIVEIRA, Júlio; GRAÇA, Amândio. O ensino dos jogos desportivos. 2. Ed. Porto:
Universidade do Porto, 1995.
GRECO, Pablo J. (Org.). Iniciação esportiva universal: metodologia da
iniciação esportiva na escola e no clube. Belo Horizonte: UFMG, 2007. Volume 2.